A cronologia das antigas dinastias egípcias acaba de ser refeita por pesquisadores europeus, a partir da análise combinada de dados de carbono 14 de plantas com relatos históricos de reis e rainhas sobre a ordem e a duração de seus reinados. Os resultados, que sugerem que alguns fatos aconteceram antes do previsto, oferecendo, por isso, informações inéditas para a literatura sobre o tema, foram publicados na revista Science.
O estudo foi desenvolvido por professores da Universidade de Oxford (Inglaterra), Université Paris VII-Diderot (França), Universidade de Haifa (Israel), Universität Wien (Áustria) e Cranfield University (Reino Unido). O método de datação utilizado tem como base o radioisótopo carbono-14 para determinar a idade de materiais de até 60 mil anos. Os pesquisadores coletaram medidas de radiocarbono de 211 espécies diferentes de plantas na região do rio Nilo, que estavam diretamente associadas ao cotidiano de antigos reis egípcios. As espécies analisadas estavam em forma de sementes, cestos, tecidos, caules e frutas.
Os radiocarbonos forneceram novas estimativas para os reinados caracterizados como Antigo (da 2ª a 8ª dinastia), Médio (da 11ª a 13ª dinastia) e Novo (17ª a 21ª dinastias). A modelagem dos dados fornece uma cronologia que se estende de 2691 a 1090 a.C. Os resultados sugerem, por exemplo, que o Novo Reinado começou em 1570 e foi até 1544 a.C. e que o reinado de Djoser, no Reino Antigo, durou de 2691 a 2625 a.C. Esses dois casos, segundo o trabalho, ocorreram antes do que outras previsões históricas haviam estimado.
O artigo aponta que, por milhares de anos, estudiosos se ocuparam em documentar os reinados dos vários governantes do Egito. Mas embora a cronologia que se tem nos dias de hoje é precisa em termos relativos, atribuir datas absolutas para eventos ocorridos na antiguidade é uma tarefa entendida como controversa pela ciência mundial. “As medições de radiocarbono fornecem uma cronologia coerente para o Egito antigo, que está bem próxima de algumas tentativas anteriores para revelar novos detalhes da história ocidental”, dizem os pesquisadores no artigo.
As datações por carbono-14 apontaram ainda que o Novo Reinado teria começado algumas décadas mais cedo que a data estimada por outros levantamentos, que afirmam que esse reinado teria começado em 1550 a.C. Ainda no Novo Reinado, o estudo mostra que o faraó Tutankamon, um dos mais conhecidos na cultura egípcia, teria reinado entre 1353 e 1331 a.C.
A nova cronologia do período Dinástico permite uma comparação direta com registros semelhantes de outros períodos do Egito, como o Pré-Dinástico. “A datação por carbono 14 tornou-se precisa o suficiente para restringir a história do antigo Egito em datas muito específicas", disse Christopher Ramsey, pesquisador do Laboratório de Arqueologia e História da Arte da Universidade de Oxford. “As informações desse novo estudo servirão como pré-requisito para a compreensão da velocidade e dos mecanismos de formação de todo o Estado Egípcio.”
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