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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Discurso da Discórdia

No dia 1º de Abril de 1964 os Jornais noticiavam que os militares estavam no poder. Não era uma mentira, não era engraçado, e durou 21 anos. Por isso, nesse mês, cinco postagens serão relacionadas a essa tenebrosa parte de nossa historiografia. Talvez o ápice do totalitarismo tenha sido o A-I 5, o ato institucional baixado em Dezembro de 1968, durante o governo de Costa e Silva. A partir daí a Ditadura mostra sua cara abertamente. O congresso é fechado, mandatos caçados, suspensão do habeas corpus, intervenções nos estados e municípios, e a censura instituída para conter os “subversivos”.

Pouca gente sabe que o estopim pra os militares decretarem o AI-5 foi o discurso do deputado Márcio Moreira Alves, proferido no dia 2 de Setembro na Câmara dos Deputados,  tido como uma provocação. A cúpula militar solicita a cassação de seu mandato, mas vê o seu pedido recusado. O Batedeira tem a honra de exibir na integra esse discurso histórico. Provocativo sim, e com uma conotação sexual para escandalizar os moralistas da época. Apreciem a leitura:

"Senhor presidente, senhores deputados,

Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das forças armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio à polícia. No entanto, isto não basta.

É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro.

As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.

Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas.

Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome. Creia-me senhor presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.

Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes, sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário dos seus superiores."

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